- Ele ainda é seu pai -dizia a mãe como se ela tivesse esquecido. - Se você não for, vai se arrepender depois. Sei que é difícil imaginar isso quando se tem 17 anos, mas acredite em mim. Um dia você ainda vai se arrepender.
~*seunome*~ achava que não.
A atendente digita no teclado do computador com certa ferocidade, batendo nas teclas e fazendo barulho ao mascar chiclete.
-Você está com sorte -diz, balançando as mãos no ar.- Posso colocá-la no voo de 22h24. Assento 18A. Janela.
~*seunome*~ fica até com medo de perguntar, mas arrisca mesmo assim:
-Chega que horas?
-Chega 9h54 -diz a atendente.- Amanhã de manhã.
Imagina a caligrafia delicada no grosso convite marfim de casamento, que estava há meses em cima da cômoda. A cerimônia começa no dia seguinte meio-dia, o que significa que,se tudo sair conforme planejado - o voo e a alfândega, os táxis e o Trânsito, se tudo for perfeitamente coreografado -, ainda há uma chance de conseguir chegar a tempo. Uma pequena chance.
-O embarque começa neste portão às 21h45 - comunica a atendente, entregando-lhe vários papéis organizados num pequeno envelope. - Tenha um excelente voo.
Vai até as janelas e examina as fileiras de cadeiras cinza.
A maioria está ocupada e as que restam estão com o estofado amarelo à mostra, como ursinhos de pelúcia descosturados.
Ela coloca a mochila sobre a mala de mão, pega o celular e procura o número do pai na lista de contatos. Está registrado como "O professor", apelido que ganhou da filha há um ano e meio, quando anunciou que não voltaria a Connectinut; depois disso, a palavra pai acabou virando um incômodo sempre que ela abria o celular.
Seu coração dispara com o toque do telefone; ele liga regularmente, mas ela quase nunca liga de volta. É quase meia-noite na Inglaterra, e quando finalmente atende, a voz do pai está rouca e lenta de sono ou de álcool - talvez de ambos.
- ~*seunome*~ ?
-Perdi meu voo - diz com o tom seco que naturalmente aparece quando fala com o pai. É efeito do desgosto que sente por ele.
-O quê ?
Suspira e repete a informação.
-Perdi o voo.
Ao fundo, ~*seunome*~ escuta Charlotte murmurando, e alguma coisa queima dentro dela, um pequeno surto de raiva.Apesar dos e-mails carinhosos que a mulher mandou desde o noivado - eram cheio de planos para o casamento, fotos da viagem a Paris e pedidos para que não ficasse distante, todos assinados com um entusiasmo " :-))) " (como se apenas uma carinha feliz não bastasse) -, há exatamente um ano e 96 dias, ela decidiu que ia odiar a mulher, e um convite para ser madrinha não era o suficiente para mudar isso.
-Bem -diz seu pai- , conseguiu outro voo ?
Posto ainda hoje se der tempo.
Comentem, a unica coisa que pesso... quero saber se posso continuar...
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